Entrevista com a arquiteta Mariama Nunes
Por Maria Rodrigues
Desde o início da pandemia muita coisa mudou em nossas vidas, principalmente a dinâmica em nossos lares e ambientes de trabalho. Neste cenário pós-pandêmico, os profissionais de arquitetura e decoração precisaram se reinventar para que todas essas novas necessidades fossem atendidas. A Neuroarquitetura vem colaborando para essa nova forma de projetar ambientes, de uma forma que tenham impactos positivos na vida das pessoas.
Para entender melhor o papel da Neuroarquitetura em um mundo pós-pandêmico, convidamos a arquiteta Mariama Nunes para um bate papo.
“O meu trabalho atualmente é focado na especialidade em Neuroarquitetura, ou seja, trazer ambientes que proporcionem experiências e vivências na rotina das pessoas que possam causar alterações de humor e comportamento. Induzir emoções, estimular práticas e impactar na qualidade de vida dos indivíduos é a minha linha de projeto”, nos contou.
Conheça mais a profissional
Mariama Nunes, arquiteta formada desde 2013 pela UNIFACS, possui especialização em Neuroarquitetura e formação técnica em design de interiores na EBADE.
A motivação da escolha da profissão da arquiteta se deu pelo seu interesse na relação das pessoas com suas casas. “Sempre tive um olhar atento para o lado da arte, do designer, das cores e indiretamente isto me levou a fazer arquitetura”.
Mariama busca elementos como cores, texturas, sons e iluminação como formas de criar ambientes inteligentes que influenciam positivamente no comportamento das pessoas, proporcionando uma identificação com o projeto, memórias e valores afetivos.
“A qualidade de vida e pertencimento é o ponto principal para o desenvolvimento dos meus projetos”, concluiu Mariama.
Confira a entrevista completa:
Quatro Estações: O que é Neuroarquitetura?
A Neuroarquitetura veio da junção da Neurociência com a parte psicológica, comportamento e ambiente. Quando a gente começa a estudar a relação da neuroarquitetura a gente entende que a neurociência é exatamente como o nosso cérebro funciona, ela faz esse estudo do cérebro, do comportamento, dos estímulos que o cérebro tem.
Então a neuroarquitetura é um campo de pesquisa da relação entre o ambiente que está sendo construído com as pessoas, ou seja, com seus usuários e como esses ambientes irão potencializar e transmitir mensagens, inclusive a questão da percepção ocupacional do espaço com a pessoa.
Este campo permite o entendimento mais completo do funcionamento do cérebro e das reações fisiológicas do organismo quando eles são expostos à diversos estímulos que aquele ambiente está passando.
Colocando de um ponto de vista prático sobre a neuroarquitetura, é basicamente criar e desenvolver espaços mais saudáveis, é a busca da qualidade de vida e do bem-estar pessoal. Claro que cada projeto a gente busca utilizar concepções e utilização estratégica para o que estamos buscando, se a gente vai estimular ou inibir alguma ação ligada a parte neurológica daquela pessoa, e através desse estudo é definido quais materiais, cores, iluminação e toda estratégia arquitetônica que será utilizada no projeto.
Quatro Estações: Algo mudou dentro da arquitetura durante e após a pandemia?
As pessoas começaram a entender que a casa não foi feita apenas para você receber amigos e familiares, e sim que a casa é feita para viver. Obviamente a pandemia, durante e o pós, trouxe novos hábitos para os usuários, então a questão de ficar mais em casa se tornou algo muito mais da rotina e da necessidade.
A pandemia trouxe um olhar das pessoas com a sua relação com a sua casa, muitas pessoas na pandemia começaram a perceber que é necessário ter um espaço bom, ter uma cozinha boa, um home office adequado para aquela pessoa e não algo mais generalista. O morador percebe que está faltando algo na iluminação natural, um pouco de verde, mais aconchego e conforto para que ele passe o dia na casa.
Além disso, muitas pessoas que moravam em apartamento começaram a enxergar e valorizar mais as áreas de casa, muitas começaram a buscar casas para morar e trazer mais intervenções urbanas nestes ambientes.
Quatro Estações: Como a neuroarquitetura pode colaborar para este novo momento?
Nós devemos estar atentos para esses novos hábitos no pós-pandemia e entender que nosso papel é fundamental, é da nossa responsabilidade entender que precisamos humanizar os espaços.
Durante a pandemia as pessoas sofreram muito nessa parte da socialização, da vivência, pela dificuldade de desenvolver memória a longo prazo pela falta de novas experiências. Por isso temos a responsabilidade de humanizar espaços e entregar esse lado afetivo de volta, para que as pessoas que estejam retornando para este convívio social se sintam neste espaço humanizado.
Em recepções, salas de esperas, consultórios e escritórios os mobiliários tiveram que se readequar, tivemos que criar uma relação de distanciamento e foi criada essa nova percepção pela necessidade do momento, e isso acabou refletindo em todas as estações de trabalho. A gente tem hoje muitos escritórios trabalhando em um sistema híbrido, onde tem dias que as pessoas trabalham no escritório físico e outros elas ficam no home office, esse novo sistema fez as pessoas buscarem melhorias nos home offices e os escritório começaram a analisar que as pessoas podem ser produtivas em casa, mas que necessitam também do convívio no trabalho presencial.
A neuroarquitetura também trouxe muito esse lado nos escritórios corporativos, na busca de melhorias no espaço trazendo mais sustentabilidade, trazendo mais o designer biofílico, exatamente para as pessoas começarem a ter uma vivência e bem-estar melhor dentro dos escritórios.
Com isso, o espaço residencial também passa por mudanças. Hoje os apartamentos são vistos de outro modo, por isso há a necessidade de um espaço para a pessoa ter esse reflexo de ela estar dentro de um ambiente de trabalho.
A casa deixa de ser um espaço somente para o convívio da familiar e agora terá que ser um espaço produtivo, isso faz com que o profissional pense em estratégias para juntar o lado íntimo, com o espaço produtivo, o home office.
Quatro Estações: Como a iluminação e ventilação contribuem para um espaço positivo?
A iluminação natural é sincronizada com nosso ritmo circadiano, o nosso relógio biológico. Esse relógio biológico regula nossos ritmos fisiológicos com os psicológicos, ou seja, ele tem impacto direto no nosso sono, nos nossos hormônios, na nossa função celular e na nossa expressão genética.
É basicamente através da luz que nosso cérebro sincroniza grande parte do nosso funcionamento com o mundo exterior, por isso é importante a gente valorizar a parte da iluminação natural no nosso lar.
Quando a gente vai projetar é muito importante entendermos como a exposição constante à luz vai interferir no nosso ciclo circadiano, por isso tem que ter muito cuidado nas escolhas até dos tons da luz, ou seja, o quanto a luz fria ou questão vão influenciar em todo nosso sistema e no nosso relógio biológico.
A ventilação é uma estratégia para contribui com o conforto térmico do ambiente, ela também melhora a qualidade do ar. O uso da arquitetura bioclimática, que é o uso da ventilação natural, traz benefícios como conforto térmico, melhora na qualidade do ar, redução do consumo energético e melhora significativa na saúde e no bem-estar.
Quatro Estações: E quanto a decoração, como criar um ambiente que ajude nossos estímulos?
Nós temos uns pontos que influenciam os nossos sentidos e esses pontos são os ruídos, cheiros, cores, luz, texturas, temperatura, privacidade, luz natural e a ergonomia de disposição dos mobiliários, então todos esses elementos estão dentro da estratégia de neuroarquitetura dentro do ambiente.
A ideia é usar estes pontos não de forma tradicional como vemos em projetos do dia a dia, mas sim usar de uma forma inteligente e que façam a diferença em inibir ou estimular o usuário daquele espaço.
A visão, por exemplo, tem a sensação de pertencimento. É uma estratégia muito utilizada para as crianças, pois já que elas estão em desenvolvimento é importante criar móveis na altura da visão delas, para de fato começarem a sentir um efeito de pertencimento naquele espaço. Além de colaborar no desenvolvimento da autonomia, confiança e respeito ao espaço que são essenciais para a criança.
Outro exemplo é o toque, que podemos atribuir através da textura, da cor, da biofilia, das plantas. Tudo que envolve misturas de texturas e toques causam estímulos, por isso é importante saber quais texturas e cores o usuário gosta ou não, para que não se crie traumas e desconfortos.
Na audição temos a questão dos ruídos. Até onde é importante o silêncio? Como os vãos e a altura do pé direito vão interferir? Os ruídos da rua para dentro da casa podem ter uma intervenção negativa ou não da pessoa. Por isso é importante entender cada elemento que citei no início da minha fala.
A verdade é que a neuroarquitetura traz soluções e questões tão profundas que seria impossível abordar tudo em uma única conversa. Quer saber mais sobre este universo? Siga Mariama nas redes sociais e conheça mais sobre o trabalho dela.
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Sobre nós:
Fundada há mais de 30 anos, a Quatro Estações é uma empresa de tradição familiar que atua com destaque no mercado de decoração da Bahia. Somos especialistas nas soluções e papéis de parede, tecidos, cortinas, persianas e toldos.
Contamos com as melhores marcas do nosso segmento e possuímos o maior acervo do estado, sempre oferecendo a opção ideal para o seu projeto.
Mantendo o foco na satisfação de nossos clientes, dispomos de estrutura e equipe especializada para prestar um atendimento e pós-venda de excelência.
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